"(...) quanto mais velho você é, mais sabe que os pensamentos, embora possam parecer grandiosos jamais serão grandes o sufeciente para abarcar a generosa prodigalidade da experiencia humana (...)"
" O amor e a morte não têm historia própria. São eventos que ocorrem no tempo - eventos distintos não conectados (...) "
" (...) não se pode aprender a amar, tal como não se pode aprender a morrer. (...) Chegado o momento, o amor e a morte atacarão (...) Quando acontecer, vai pegar-te desprevenido . (...) "
" (...) construir uma linhagem que 'faça sentido' (...) na maioria das vezes obtemos sucesso. Precisamos desse sucesso pelo conforto espiritual (...) evoca uma ilusão de sabedoria conquistada de aprendizado, e sobretudo de uma sabedoria que se pode aprender (...) "
" No caso da morte, o aprendizado se restringe (...) à experiência de outras pessoas, e portanto constitui uma ilusão in extremis* (...). A experiência dos outros só pode ser conhecida como a história manipulada e interpretada daquilo por que eles passara. (...) permanece o facto de que a morte, assim como o nascimento, só ocorre uma vez. Não há como aprender a 'fazer certo na próxima oportunidade' com um evento que jamais voltaremos a vivenciar. "
*Do latim in extremis, «em caso extremo»
" (...) é possível que alguém se apaixone mais de uma vez (...) na nossa época cresce rapidamente um numero de pessoas que tendem a chamar de amor mais de uma das suas experiências de vida, que não garantiriam que o amor que actualmente vivenciam é o ultimo e que têm a expectativa de viver outras experiências como essa no futuro."
" (...) a definição romântica do amor como 'até que a morte nos separe' está decididamente fora de moda (...) Mas o desaparecimento dessa noção significa (...) a facilitação dos testes pelos quais uma experiência deve passar para ser chamada de 'amor'. Em vez de haver mais pessoas atingido mais vezes os elevados padrões do amor, esses padrões foram baixados. Como resultado, o conjunto de experiencias às quais nos referimos com a palavra amor expandiu-se muito. Noites avulsas de sexo são referidas pelo codinome de 'fazer amor'. "
" A subita abundancia e a evidente disponibilidade das 'experiencias amorosas' podem alimentar (...) a convicção de que amar (...) é uma habilidade que se pode adquirir e que o dominio dessa habilidade aumenta com a prática e a assiduidade do exercicio. Pode-se até acreditar (...) que as habilidades do fazer amor tendem a crescer com o acumulo de experiencias que o proximo amor será uma experiencia ainda mais estimulante do que a que estamos a viver atualmente, embora não tão emocionante ou excitante quanto a que virá depois. Essa é contudo, outra ilusão (...)"
" O conhecimento que se amplia juntamente com a série de eventos amorosos é o conhecimento do 'amor' como episódios intensos, curtos e impactantes, desencadeados pela consciência a priori* de sua própria fragilidade e curta duração. As habilidades assim adquiridas são as de 'terminar rapidamente e começar do inicio' (...) desaprendizado do amor - 'exercitada incapacidade' para amar."
*do latim a priōri, «à primeira vista»
" É da natureza do amor (...) ser refém do destino. (...) a profetisa Diotima de Mantinéia ressaltou para Sócrates (...) que 'o amor não se dirige ao belo, como tu pensas, dirige-se à geração e ao nascimento no belo.' Amar é querer 'gerar e procriar' e assim o amante 'busca e se ocupa em encontrar a coisa bela na qual possa gerar'. (...) O amor é afim à transcendência, não é senão outro nome para o impulso criativo e como tal carregado de riscos, pois o fim de uma criação nunca é certo."
" Em todo amor há pelo menos dois seres, cada qual a grande incognita na equação do outro. É isso que faz o amor parecer um capricho do destino (...). Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condições humanas (...). Abrir-se ao destino significa, em ultima instancia, admitir a liberdade no ser: aquela liberdade que se incorpora no Outro, o companheiro no amor. 'A satisfação no amor individual não pode ser atingida sem a humildade, a coragem, a fé e a disciplina verdadeiras', afirma Erich Fromm (...) para acrescentar adiante, com tristeza, que em 'uma cultura na qual são raras essas qualidades, atingir a capacidade de amar será sempre, necessariamente, uma rara conquista'. (Erich Fromm - The art of loving)
" Sem humildade e coragem não há amor (...) o amor conduz ao se instalar entre dois ou mais seres humanos."
" Eros, como insiste Levinas (...) difere da posse e do poder: não é nem uma batalha nem uma fusão - e nem tampouco conhecimento. Eros é 'uma relação com a alteridade, com o mistério, ou seja, com o futuro, com o que está ausente do mundo que contém tudo o que é.' 'O pathos* do amor consiste na intransponível dualidade dos seres'. Tentativas de superar essa dualidade, de abrandar o obstinado e domar o turbulento, de tornar prognosticavel o incognoscível e de acorrentar o nômade tudo isso soa como um dobre de finados para o amor. Eros não quer sobreviver à dualidade. Quando se trata de amor, posse, poder, fusão e desencanto são os quatro cavaleiros do Apocalipse. "
Do grego Éros, mitologia, deus do amor
*do grego pathos, «paixão, sofrimento»
" Nisso reside a assombrosa fragilidade do amor, lado a lado com sua maldita recusa em suportar com leveza e vulnerabiliade. Todo amor luta para enterrar as fontes de sua precariedade e incerteza, mas, se obtém êxito, logo começa a enfraquecer-se (...) "
Texto: Amor Liquido - sobre a fragilidade dos laços humanos por Zygmunt Bauman
Fragmentos
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Projeto pensado durante 1 ano. A fusão da fotografia com a literatura. Dar sentimentos ás fotos através de frases de um livro em especifico.

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